Julho 2024 | À conversa com Paulo Nunes: A IPStartUp como ponte entre a academia e a sociedade

Paulo Nunes, docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, partilhou numa entrevista o seu envolvimento com o empreendedorismo.

O mentor da IPStartUp para as áreas de Ciências do Desporto, Gestão e Turismo realçou o concurso Poliempreende e a incubadora como ativos importantes para a obtenção de competências fundamentais.

Professor, qual o papel do empreendedorismo na sua vida?
O empreendedorismo na minha vida pressupõe a superação e a obtenção de objetivos. O conceito empreendedorismo assume várias designações, por exemplo, está associado e alinhado às empresas, mas consegue extravasar o mundo empresarial e materializar-se no que é social. O empreendedorismo propõe a resiliência, a resolução de problemas e, nesse sentido, utilizo muito o empreendedorismo.

Enquanto professor, como se alcança o potencial empreendedor que nasce na comunidade académica? Que metodologias o professor aplica para promover esse potencial empreendedor dentro do contexto de sala de aula?
Eu trabalho muito com as pedagogias ativas e defendo que a aprendizagem por projetos assume uma relevância significativa porque faz apelo ao trabalho autónomo e à vontade dos estudantes. É muito importante, no processo ensino-aprendizagem, que os estudantes sejam motivados por temas que também sejam da sua preferência. Um estudante que se inscreva no curso de Licenciatura em Desporto tem uma noção das saídas profissionais não consolidadas. Assim, ao longo da sua formação, terá oportunidade de validar ou refutar determinadas possibilidades e saídas profissionais. Os professores podem ser solução ao nível do empreendedorismo porque através da aprendizagem por projetos podemos dar a oportunidade aos estudantes de irem para além dos conteúdos programáticos.

Qual a sua motivação para se tornar mentor na IPStartUp?
Do ponto de vista pessoal, já fui empresário e tive a oportunidade de trabalhar em diferentes setores. Já estive a trabalhar, durante vários anos, ao nível de um pré-escolar no âmbito da psicomotricidade, já trabalhei em estabelecimentos prisionais e já estive ligado ao mundo empresarial, às autarquias e ao associativismo. Portanto, julgo que estas experiências poderão ser uma mais-valia relativamente a dinâmicas empreendedoras. Sinto-me motivado e agradeço-vos o facto de me estarem a dar essa oportunidade.

Que ligação tem o empreendedorismo com o desporto? Que exemplos o professor identifica de empreendedorismo desportivo?
Imensos, imensos exemplos. Seria incorreto se não referisse um ícone incontornável, o Cristiano Ronaldo. É inspirador na forma como está ligado ao futebol, mas para além disso, ele tem um dinamismo e uma alma empreendedora que também se traduz nas conquistas enquanto praticante da modalidade de futebol.

Considero que os empreendedores são sobreviventes e correm riscos, mas riscos calculados. Não me parece que um empreendedor tenha de testar a vertigem através do precipício, poderá até ir ao limite e sentir alguma adrenalina, mas não vai arriscar a sua vida desta forma. Portanto, falei no Cristiano Ronaldo, mas posso dar outros exemplos, como na modalidade de canoagem, a marca NEO resulta de um ex-praticante da modalidade de canoagem e, atualmente, os barcos, as canoas e os caiaques são vendidos em diferentes continentes. Também o Nuno Galgado, através do Judo, é um relações-públicas de excelência, porque tem em si uma alma empreendedora.

Um bom desportista tem de ser um bom gestor e eu defendo, convictamente, que os conhecimentos, incluindo os conhecimentos nas áreas do empreendedorismo, devam ser transversais a todas as áreas. O ideal seria que todos os licenciados, independentemente da sua formação, tivessem instrumentos e ferramentas que permitissem essa mais-valia.

Que importância atribui a uma incubadora académica?
Uma importância elevada, porque considero que uma incubadora poderá ser a interface entre a academia, a sociedade, e o mercado de trabalho. Os nossos jovens estudam porque procuram uma afirmação pessoal e profissional e deve haver uma correspondência relativamente ao reconhecimento que a sociedade faz e a valorização que os cursos nutrem. A incubadora permite que haja ensaios de uma boa ideia, não têm de ficar no papel. Custa tanto fazer pequeno como fazer grande. A incubadora acaba por ser um espaço multitask que permite potenciar uma boa ideia e funciona como uma interface entre o mundo académico, a sociedade e o mercado de trabalho. Portanto, valorizo convictamente.

Qual é a importância de um concurso como o Poliempreende para o desenvolvimento do percurso profissional dos nossos estudantes?
Vejo o Poliempreende como um reconhecimento que se faz a todo um trabalho de backoffice. Existe uma ideia, essa ideia foi trabalhada, materializou-se, concretizou-se num projeto e firmou-se. Ao fazer-se esse reconhecimento e distinção, através do Poliempreende, permite potenciar o negócio, a empresa. Trata-se de uma iniciativa que está muito bem enraizada no campus do Instituto Politécnico de Setúbal e nós temos algumas conquistas. Mas essas conquistas poderão ter uma maior expressão e isso implica, no seio das unidades orgânicas, uma maior intervenção, que permita que as unidades curriculares estejam alinhadas com os timings da submissão de candidaturas.

Qual a importância do desenvolvimento de competências empreendedoras para um estudante do ensino superior?
Deverá haver uma ou outra unidade curricular que dê as ferramentas necessárias para que o estudante consiga criar um negócio, saiba quais são as trilhas a seguir, as etapas a vencer. Dou um exemplo, se questionarmos os nossos finalistas qual a diferença entre um ofício e um requerimento eu arrisco-me a dizer que uma percentagem elevada irá responder que não sabe diferenciar. O que é isto de um sumário executivo? Como é que um projeto poderá ser apresentado a um autarca ou a um município? Como é que se fundamentam as propostas? Como é que se torna exequível uma ideia de negócio?

No curso de Licenciatura em Desporto, no CETESP em Gestão de Turismo e no CETESP de Desportos Natureza temos várias unidades curriculares que fazem o apelo ao desenvolvimento organizacional. E temos vários alunos com provas dadas do ponto de vista dos seus negócios, como por exemplo, um estudante do CETESP de Desportos Natureza cuja sua empresa, que opera ao nível da animação turística, está a ter um sucesso e que é reconhecido por todos e poderá afirmar-se não só ao distrito de Setúbal, mas ter uma dimensão ainda maior.