Agosto 2023 | Miraway: A missão de levar os sonhadores a qualquer parte do mundo

Em entrevista à IPStartUp, Palmira António relata os sonhos e as dores que a levaram a iniciar a sua jornada empreendedora e a criar o seu próprio negócio.

O Poliempreende foi um dos desafios que enfrentou e que lhe deu ferramentas para prosseguir com a sua ideia de negócio e, nesta conversa, Palmira reflete sobre o crescimento da Miraway, etapas conquistadas e o futuro da sua empresa.  

Como surgiu a ideia? E como chegaram à escolha do nome?

Na minha jornada académica, percebi que o Instituto Politécnico de Setúbal recebia muitos estudantes internacionais, que depois se deparavam com vários constrangimentos, fossem eles legalização, alojamento, adaptação e integração. E o próprio Instituto Politécnico de Setúbal, enquanto instituição que os recebe,  também enfrentava muitos desafios no respeitante à integração e acolhimento. Eu sou angolana, então relacionei-me muito com esta dor.

Foi com base nestes desafios que também comecei a pensar na forma de trazer algum conceito que pudesse apoiar os dois lados. Na Miraway, não procuramos apoiar somente quem chega, mas também tentamos implementar algumas políticas para apoiar quem cá está e ajudar a acolher quem chega. Tem de existir este equilíbrio.

Após um brainstorming de nomes, pensámos em MyWay (meu caminho). No entanto, era um nome muito comum e que encontrávamos muito facilmente com qualquer pesquisa. Com alguns ajustes, chegámos ao nome Miraway, no sentido de “mirar o meu caminho” e pensava que fazia todo o sentido, tendo em conta o nosso conceito. 

Como foi a jornada pelo empreendedorismo? Quando se deu o primeiro contacto?

Algo que reflito muito é que ninguém nasce empreendedor. Claro que existem pessoas que nascem com essa competência, com esse “dom”, mas a verdade é que existem muitas pessoas que não a têm assim. 

Eu acabei por ter esta inclinação porque dei por mim, com licenciatura feita, um mestrado a meio e sem prospeções de emprego futuras. Foi por necessidade que comecei a empreender, mas é interessante refletir sobre toda a jornada e perceber que, de certa forma, eu já tinha esse gosto e aptidão para o empreendedorismo. Apenas precisava de o desenvolver. 

Qual foi a dor do teu público que procuraste resolver?

A principal dor que nós, na Miraway, tentamos resolver é o acolhimento. Quem vem de fora, vem sozinho. Muitas vezes, vem sem referências, sem alguém de confiança em Portugal. Independentemente de apoiar na matrícula e na procura por alojamento, queremos apoiar nesse acolhimento. 

Nós trabalhamos em duas vertentes: a do empreendedorismo, para quem pretende internacionalizar o negócio e validar uma ideia em Portugal e também trabalhamos com a vertente dos estudantes. Eu sou apaixonada pelo ensino, por universidades e pelo empreendedorismo. É importante, cada vez mais, cultivar o empreendedorismo dentro das comunidades académicas. 

Outro tópico que procuramos abordar é de que podemos ser empreendedores dentro das organizações em que trabalhamos. Aliás, não só podemos como devemos ajudá-las a desenvolver. Por isso é que trabalho com os dois públicos. Quero chegar aos que estão a começar a desenvolver o seu percurso académico e profissional, mas também àqueles que já têm uma ideia para validar.

Diria ainda que o carácter diferenciador da Miraway está, acima de tudo, na forma como entregamos o nosso serviço, na disponibilidade. Na forma como os fazemos sentir em família. A Miraway tem investido, pesquisado e apostado muito na parte emocional. Faz a diferença na oferta do nosso serviço.  Neste momento, penso que 75% do negócio da Miraway é por referência. 

Integraste a tua ideia de negócio na 15ª edição do Poliempreende. Como foi essa jornada?

No dia em que apresentámos a ideia ao júri regional, nem eu própria conhecia bem o meu negócio. O Poliempreende existe para nos ajudar a ganhar essa confiança, como algo que nos prepara para outras oportunidades que vão surgir.

Eu agradeço imenso a oportunidade de ter participado e agradeço todo o apoio prestado pela IPStartUp. Hoje em dia, digo que vou ser uma eterna filha da nossa incubadora de negócios.  Lembro-me de, tantas vezes, questionar a IPStartUp porque não sabia como podia organizar a minha contabilidade, como atrair clientes, como lidar com recursos humanos ou até comunicar com as pessoas que trabalhavam comigo e sei que não estava sozinha em nenhum desses momentos mais assustadores, porque juntos pensávamos numa solução e tínhamos todo o apoio dos mentores.

O conceito da MiraWay foi o que levaste ao Poliempreende?

Foi, embora não na perspetiva de atuação de hoje, nem com a maturidade que tem hoje. Foi apresentada numa fase rudimentar, eu própria não tinha as ideias muito claras. Apresentámos um conceito ainda na perspetiva de perceber como as empresas iriam trabalhar e aceitar. A partir desse momento, fui sempre trabalhando para aperfeiçoar o conceito. 

Por isso é que se fala que inovação é mais do que trazer algo novo. Quando falamos em prestações de serviços, é muito difícil inovar. Esta inovação pode simplesmente passar pela forma como nós entregamos o serviço. Na altura do Poliempreende, eu ainda não tinha clara esta inovação da Miraway, mas hoje está mais do que clara.

Passar por este processo de capacitação que o Poliempreende permitiu, serviu para estruturar as ideias?

Muito, sem dúvida. Ter a oportunidade de receber toda a teoria, com os workshops, mentorias e formações e conseguir aplicá-la de forma prática, com todo o apoio e auxílio da IPStartUp é uma mais-valia enorme para limar as arestas do nosso negócio. Até na comunicação da minha ideia, o programa de capacitação do Poliempreende foi fundamental. 

Qual foi a maior dificuldade durante a Jornada na IPStartUp e, principalmente, em  empreender de primeira viagem?

Eu costumo dizer que tudo aqui é um desafio. Temos de ter a capacidade de priorizar, fazer escolhas e sair da nossa zona de conforto. Eu estava confortável com o trabalho no backoffice, onde não tinha de comunicar com ninguém. Diria que, talvez, um dos maiores desafios que tive de superar foi aprender a lidar com pessoas.

Mas é desta forma que consigo identificar o processo. A Miraway de 2020 não é a mesma de 2021 e nem tão-pouco de 2023. É um processo de crescimento, feito com o investir de tempo, dinheiro, abrir mão de certos caprichos. Essa é a maior dificuldade durante a jornada de empreender em primeira viagem.

Como é que se lida com os dias que parece que não vemos nada está a acontecer?

É normal que existam dias em que tu acordas em pranto e dás por ti a pensar em desistir, mas, nesses momentos, tens duas opções: ou olhas para trás ou focas-te no presente. Passar pelos momentos de frustração é normal, faz parte do processo. O que importa é a tua atitude perante esses momentos e perceberes que os teus clientes confiam em ti e dependem te ti e isso é o que me dá força para continuar. É importante ter a capacidade de confiar no processo e tomar a decisão de continuar.

E depois, é uma questão de prioridades. Houve momentos em que precisei de investir em áreas mais pessoais e o meu compromisso com a Miraway levava-me a priorizar a minha empresa. Neste momento precisava de comprar um carro, mas foi mais urgente a aquisição de um espaço. Os meus clientes estavam a pedir e eu tive de considerar o que seria mais importante.

Empreender dá medo, admito. Mas é das melhores experiências que podemos ter na vida, porque o que ganhamos em questões de competências é muito gratificante.

Que retrospetiva é que fazes do teu negócio?

É incrível ver o nosso percurso até agora. Abrimos a nossa empresa e, mais recentemente, o nosso escritório físico e os sentimentos são fantásticos. E pensar que inicialmente talvez nem conseguisse ter essa perceção de escalabilidade total é simplesmente surreal.  

Se imaginava ver a Miraway no patamar que está hoje? Nunca, mas é dos momentos mais gratificantes que tenho na vida. E é ainda mais gratificante ver o quanto temos crescido também. Percebo-o quando pensava, inicialmente, que só iria trazer estudantes para Portugal e, neste momento, a Miraway já estabelece ponte e leva estudantes para o Brasil também. É incrível todo este percurso. 

Nestes 4 anos de atuação, conseguimos ajudar cerca de 60 pessoas. Para nós, é fantástico. Principalmente tendo em conta que abrimos empresa na altura em que tudo fechou com a pandemia, em março de 2020. Nunca imaginámos que fosse um processo tão difícil, principalmente para quem trabalha com mobilidade. Cheguei a ficar, em alguns casos, um ano com processos pendentes por conta desta questão. Era algo que nos transcendia.

60 clientes em 4 anos é muito significativo para nós. Estamos a falar de um ano de implementação do negócio, com restrições e sabendo bem o quão difícil também é arranjar uma carteira de clientes.

Que perspetivas futuras  tens para o teu negócio e o que ainda gostavas de alcançar?

Queremos consolidar o que fazemos no Brasil de tal forma que sejamos reconhecidos e ofereçamos o mesmo serviço que em Portugal, quando acolhemos os estudantes. Depois, é continuar a escalar. O sonho da Miraway sempre foi levar os sonhadores a qualquer parte do mundo. Seja qual for o destino, a Miraway quer estar presente e isso é algo que sei que podemos alcançar com dedicação.