Agosto 2020 | “A desconhecida missão do Ensino Superior” [Artigo de Opinião]
A IPStartUp conta com uma equipa de profissionais especializados em diferentes áreas e este mês trazemos a opinião de um dos elementos da equipa da IPStartUp – Elis Ossmane.
Após mais de 10 anos de atividade profissional na área da Saúde Ocupacional e da Formação Profissional, há 3 anos que desenvolve funções de apoio à Gestão de Projetos de Empreendedorismo, Formação e Gestão da Propriedade Intelectual na UAII&DE-IPS, colaborando também como Assistente Convidada na Escola Superior de Ciências Empresariais, no Departamento de Economia e Gestão.
Há 20 anos atrás, quando iniciei o meu percurso no ensino superior, não ouvi falar de empreendedorismo académico e nem sabia que “investigação” era algo acessível a estudantes do ensino superior, além daquela que se vai desenvolvendo ao longo do curso por via de terminar unidades curriculares específicas. Não fazia ideia que poderia continuar a investigar, que existiam instrumentos, bolsas de investigação, problemas que podia ter ajudado a resolver, através da investigação e através do empreendedorismo académico. Então apressei-me para terminar o curso e encontrar um trabalho “na minha área”.
Hoje, 20 anos depois, acredito que muitos jovens continuam a não saber. E continua também desconhecida, pelo menos parcialmente, a missão da comunidade académica que inclui a I&D e a transferência, para a sociedade, do valor intelectual gerado dentro de portas. Apesar de crucial para robustecer a competitividade das organizações, a transferência de valor não se dá apenas com a inserção dos diplomados no mercado de trabalho e através das relações de socialização que se vão construindo antes e depois disso.
Outras formas de transferir valor para a sociedade passam por desenvolver novas soluções técnicas para a resolução de problemas específicos existentes nas comunidades e nas organizações, mas também pela criação de novas empresas por parte de estudantes, docentes, investigadores que tenham, pelo menos, a vantagem competitiva associada ao capital intelectual (o seu e o inerente a ativos tais como por exemplo as patentes de invenção).
A criação de novas empresas, com serviços e produtos diferenciados, específicos, únicos no mercado global, pode ajudar, a longo prazo, a alterar aquilo que vimos acontecer nestes últimos tempos – um acentuado impacto na atividade económica que assenta numa estrutura muito dependente de fatores que não controlamos, ex. o Turismo. Se conseguirmos ter no país empresas mais resilientes, independentes, que ofereçam produtos únicos e valorizados a nível global, e com isso ter maior capacidade financeira, teremos consequentemente mais emprego qualificado [mais oportunidades para a inserção de trabalhadores qualificados], melhores salários, melhor contribuição social, melhor qualidade de vida, mais inclusão.
Relativamente ao empreendedorismo, apesar da atividade empreendedora em Portugal estar a crescer nos últimos anos, continuamos a registar algumas barreiras ao empreendedorismo, entre as quais os aspetos culturais. Somos uma sociedade muito penalizadora no que toca aos erros, às tentativas falhadas, o que faz com que tenhamos medo de arriscar. Além disso, nem sempre conhecemos ou sabemos como utilizar os apoios e instrumentos que existem para que esse risco (que existe sempre) seja minimizado e para que possamos “arriscar” com mais confiança.
É preciso desmistificar a “Missão” das instituições de ensino superior [de toda a comunidade académica], em especial junto dos estudantes e desde cedo. É preciso mostrar que podem alcançar o “sucesso” através da participação em projetos de I&D e em projetos de empreendedorismo e que podem começar a fazer isso a partir do momento em que entram no ensino superior, a altura ideal para integrar projetos com maior grau de incerteza.
Os estudantes devem saber que podem participar nestes processos criativos, que têm outras opções no que toca a escolher o que querem fazer enquanto futuros profissionais e que, no caso do IPS, podem fazê-lo participando nos programas da IPStartUp. No final, ninguém garante que desse empenho irá surgir uma patente de invenção com excecional valor comercial ou uma empresa de sucesso, mas o conhecimento e as competências que se desenvolvem durante o processo facilitam o alargamento da visão acerca do papel e potencial impacto de cada um na sociedade em que vivemos. No final do processo, teremos profissionais preparados, independentemente da via profissional que depois cada um queira seguir.