Entrevista | Mentora Alcina Dourado

A IPStartUp conta com uma equipa de tutores e mentores especializados em diferentes áreas.

Estivemos à conversa com a Professora Alcina Dourado, docente do IPS integrada no departamento das Ciências da Comunicação e da Linguagem e, também, mentora em Comunicação Estratégica e Organizacional na IPStartUp.

 

IPStartUp - Iniciou mais uma edição do Poliempreende. Como avalia a importância de serem lançados desafios para a apresentação de ideias de negócio a estudantes do ensino superior e muito particularmente a estudantes da área da comunicação social?

Alcina Dourado - Este tipo de iniciativas não só é importante, como necessário. Mais do que uma palavra na moda, é imprescindível estimular de forma perene a veia empreendedora latente em muitos dos estudantes das instituições de ensino superior portuguesas. Ao mesmo tempo é uma iniciativa que permite potenciar competências ou skills que são percecionadas como softskils, isto é, suaves. Na realidade, trata-se de competências que nada têm de soft. Antes pelo contrário. Capacidades como o trabalho em equipa, a comunicação ou o pensamento criativo são fundamentais nesta área. Se podem fazer parte, de forma vincada, nos atributos e atitudes pessoais, também podem ser desenvolvidas através deste tipo de iniciativas. Registe-se ainda que o mercado de trabalho na área da comunicação social é muito diverso. Ao aderir a estas iniciativas, os participantes vão ao encontro não só do perfil procurado por muitas empresas já estabelecidas no mercado, como do conjunto das características desejáveis no perfil de um empreendedor.

IPStartUp - A promoção deste concurso passa também pelos docentes, a partir da identificação de ideias, no âmbito das suas unidades curriculares. Da sua experiência, quão inovadores e empreendedores podem ser os estudantes?

Alcina Dourado - É relevante atender às características individuais dos empreendedores portugueses e que criam uma certa imagem que, contrariamente ao que se possa pensar, não é estática. Trata- se de aspetos como a maior ou menor aversão à incerteza, a autonomia ou a propensão para o risco. Apesar de fazerem parte da cultura nacional e orientação empreendedora, podem ser alterados e são já percetíveis no contacto próximo e regular que os docentes têm com os seus estudantes. A minha experiência, que não pode ser generalizada, aponta para jovens que têm em si o gérmen para inovar desde que o contexto criado na relação de ensino-aprendizagem permita acolher a experimentação, o erro ou a falha. No entanto, nem sempre tal é possível, pelo que é desejável criar oportunidades para ensaiarem este seu potencial.

IPStartUp - Enquanto mentora da IPStartUp, já teve oportunidade de acompanhar a Miraway, uma das empresas que foi criada e que nasceu no Poliempreende. Como foi essa experiência?

Alcina Dourado - Ainda estou a acompanhar esse processo. Tem sido uma experiência altamente gratificante. O facto de ser uma mulher a empreender tem um significado especial. O foco da empresa corresponde efetivamente a uma necessidade do mercado e vê-la tomar forma é muito motivante. Ao mesmo tempo dá-me a oportunidade de partilhar com ela o meu conhecimento no domínio da comunicação que, ao invés de ficar circunscrito ao universo académico, permite a sua aplicado num contexto real ajudando a dar respostas a problemas concretos. Além disso estabeleço uma ponte com a conjuntura atual, permitindo-me enriquecer a formação que presto aos meus estudantes. É uma relação win-win.

IPStartUp - Na sua área de conhecimento, que conselhos pode deixar para as jovens equipas que começam a sua jornada?

Alcina Dourado - Para comunicar bem há que observar e saber interagir. Observem-se as crianças. As crianças são, grosso modo, curiosas, fazem muitas perguntas, são atentas, sem receio de experimentar e, fundamentalmente, sem medo de errar. Porque esse constructo que rodeia o erro de uma aura negativa e, como tal, a evitar, ainda não foi implantado no seu espírito. Obter uma avaliação ou um feedback baixo é desincentivado no sistema de ensino português. Claro que não desejamos errar. Mas só se pode crescer caindo e voltando a tentar, criando espíritos resilientes. Ou seja, deve-se olhar o fracasso não como um fim, mas como um meio ou oportunidade para identificar o que falta melhorar e ter sucesso. Assim, proponho que sejam como crianças.