Dezembro 2023 | À conversa com Miguel Correia: “O empreendedorismo é uma mentalidade"
A IPStartUp entrevistou o professor Miguel Correia, docente da Escola Superior de Ciências Empresariais nas áreas de Gestão de Inovação, que refletiu sobre a ligação existente entre o empreendedorismo e estratégia de negócios.
Enquanto mentor da IPStartUp nas áreas de Gestão e Estratégia de Negócios, partilha a sua experiência com o empreendedorismo ao longo da sua jornada profissional, bem como reflete sobre a importância de existir uma incubadora que acompanhe os estudantes no desenvolvimento de competências.
Lê mais sobre o seu testemunho em seguida:
Qual é o papel do empreendedorismo na sua vida?
O empreendedorismo acabou por aparecer na minha vida por acidente. Sou licenciado em Marketing pelo IPS e, quando terminei a licenciatura, fui trabalhar na área do empreendedorismo, numa incubadora de empresas. Isso acabou por ser a atividade que mais marcou toda a minha carreira até hoje.
Também ganhei o "bichinho" e o gosto por ajudar projetos, contribuindo de alguma forma para que as pessoas concretizem os seus sonhos e ideias de negócio. Isso acabou por moldar muito o que quero ser enquanto profissional e aquilo que quero entregar para as instituições onde trabalho e aos empreendedores com quem tenho o prazer de colaborar.
Enquanto Professor, como alcançar o potencial empreendedor que nasce na comunidade académica?
Às vezes não é fácil, é um desafio! O primeiro obstáculo tem a ver com combater a aversão ao risco que está entranhada na nossa sociedade em várias faixas etárias. E isso não é diferente para o nosso público estudantil. O segundo obstáculo é incutir, não apenas as ferramentas teóricas e conceptuais nos nossos estudantes, mas também ajudá-los a perceber o potencial criativo e de trabalho que têm e como podem utilizar essas ferramentas não apenas para passar nos testes, mas para mudar significativamente as suas próprias vidas, mas também a vida das pessoas ao seu redor.
O grande desafio é ajudá-los, precisamente, a percorrer esse caminho e acompanhá-los. Não só combater a aversão ao risco, mas também ajudá-los a perceber a potencialidade deles e das ferramentas que têm à disposição.
Qual a motivação para se tornar mentor da IPStartUp e como tem sido essa experiência de acompanhar uma equipa?
A motivação é a mesma que me mantém na área do empreendedorismo. Tenho estado sempre ligado a projetos empresariais. Assim que me convidaram para ser mentor de projetos na IPStartUp, aceitei imediatamente porque me permite continuar a fazer aquilo que me dá prazer além de dar aulas, que é ajudar pessoas a concretizarem os seus projetos, ideias, sonhos e aspirações.
Tem sido uma experiência fantástica! É muito recompensador ver jovens estudantes a adquirir mais ferramentas e servir, basicamente, como rede de segurança para eles conseguirem construir os projetos com o mínimo de risco e com o maior apoio possível, que é isso que nós fazemos na IPStartUp.
Que importância tem pensar em estratégias de negócio quando se empreende?
Não vou dizer que a estratégia é tudo, mas é uma boa parte. A estratégia de negócio é muito importante, não só para nós percebermos o mundo que nos rodeia, o que temos à nossa disposição, os nossos recursos, mas também porque nos permite juntarmos essas coisas para perceber qual é o melhor caminho para o nosso projeto.
A diferença entre termos sucesso quando construímos o nosso projeto ou “morrermos na praia” assim que começamos é a estratégia. Portanto, ter a estratégia de antemão é muito importante, mas não esquecer também uma componente muito importante da análise estratégica e da formação estratégica, que é, no final desse processo, avaliar aquilo que correu melhor e pior e estarmos dispostos a fazer as alterações que precisamos.
Temos que ser flexíveis o suficiente para perceber qual foi o nosso plano inicial e as informações que recolhemos, analisar o que correu bem e o que não correu bem, adaptar e reformular a estratégia para continuar a avançar.
Enquanto mentor da IPStartUp, que importância atribui a uma incubadora académica para o estudante do ensino superior que queira empreender?
É a diferença entre conseguirmos dar todo o apoio e fazermos tudo o que está ao nosso alcance para assegurar, dentro do possível, o sucesso dos nossos estudantes empreendedores, ao invés de os deixarmos tatear e enfrentar um conjunto de obstáculos que não seriam necessários com o apoio devido.
Esse é o trabalho essencial de uma incubadora de empresas: fornecer um conjunto de ferramentas e apoio essencial, especialmente no início, quando estão a estruturar uma ideia, a criar um plano de negócios e tirar essa componente de risco. É essa a importância de uma incubadora, não só nas aulas e em outras atividades que fazemos, mas também ao longo do ano, mostrando o que é o empreendedorismo, quais são as vantagens e como pode acrescer na vida deles, acompanhando e caminhando em conjunto com eles na construção desses projetos.
Relativamente ao poliempreende, que balanço faz desta edição?
Esta edição foi fantástica! Tivemos projetos fantásticos, extremamente criativos e inovadores, o que mostra bem a capacidade que a nossa comunidade académica tem, não só de identificar necessidades no mercado, mas de criar soluções inovadoras e concretas para essas necessidades. Mostra também a vontade que a nossa comunidade académica tem de criar os seus próprios projetos e traçar o seu próprio caminho. A vida que estamos a conseguir incutir neste projeto que decorre em parceria com várias outras instituições de Ensino Superior é muito gratificante.
Concretamente, dentro do Instituto Politécnico de Setúbal, a nossa comunidade académica tem estado presente e têm surgido projetos fantásticos. Mal posso esperar pela edição do próximo ano e para perceber que projetos vêm e que grupos aparecem para trilhar novos caminhos.
Qual a importância de um concurso como o Poliempreende para o desenvolvimento do percurso profissional dos estudantes?
Acho que é muito importante, mesmo que os projetos acabem por não se concretizar como startups. O empreendedorismo não é apenas a atividade de criar uma empresa, é uma mentalidade e uma abordagem à atividade profissional e à inovação. É muito importante no mercado de trabalho, quando trabalhamos inseridos num projeto de outrem, podemos pegar nessa inovação e trazermos vantagens competitivas para os locais onde estamos a trabalhar.
Participar no Poliempreende, a nível de carreira, demonstra a proatividade para um potencial empreendedor da nossa comunidade académica e também oferece um conjunto de ferramentas aos nossos estudantes que os permitem encarar o mercado de trabalho com outra garra, outra preparação e com outra capacidade de pensar “fora da caixa”.