Agosto 2023 | R&C: “O Empreendedorismo é liberdade”
A IPStartUp esteve à conversa com Rui Rodrigues, estudante da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, que desenvolveu o projeto R&C e o apresentou no Poliempreende, tendo conquistado o segundo lugar na fase regional.
Nesta entrevista, Rui fala sobre os desafios de conciliar os papéis de estudante, empreendedor e trabalhador e a importância de agilizar a tomada de decisão na gestão empresarial, problema que tenta solucionar com o seu projeto.
O empreendedorismo representa, para Rui, a liberdade de desenvolver as suas próprias ideias e produto. Acompanha esta conversa exclusiva e descobre mais sobre o projeto R&C e seu potencial impacto no mundo empresarial:
Qual a origem do projeto?
O projeto surgiu quando estava a tirar licenciatura em Contabilidade e Finanças, na Escola Superior de Ciências Empresariais do Politécnico de Setúbal. Numa noite em que estava a fazer um trabalho de grupo para a unidade curricular de Avaliação de Investimentos, percebi que, normalmente, os documentos contabilísticos levam muito tempo a fazer e, às vezes, não saem certo logo à primeira.
Já era muito tarde e tinha que me levantar cedo para ir trabalhar na manhã seguinte. A maior parte do grupo, sendo todos mais velhos, era constituído por trabalhadores-estudantes. As coisas não estavam a correr bem neste trabalho em particular. E assim, tive a ideia de criar uma aplicação que nos pudesse facilitar a elaboração destes documentos.
Tendo em conta, essa dificuldade de trabalho como é conciliar os três mundos enquanto estudante, empreendedor e trabalhador?
Gestão de tempo é um grande desafio! Considero que na minha idade é mais fácil porque já sei ao certo quais são as minhas responsabilidades e quais são os timings que tenho de dedicar a cada projeto. A nível de empreendedorismo, trabalho fora do horário laboral e não me incomoda.
Na altura estava a estudar de dia, trabalhava à noite e depois ainda tínhamos a parte extra de trabalhar neste projeto. Quando estou fora do meu horário de trabalho e do horário de estudante, acabo por dedicar tempo às ideias que quero desenvolver e que quero abraçar. Às vezes podia escolher ir ao cinema ou ao teatro, mas prefiro dedicar-me ao desenvolvimento de ideias, que é o que gosto verdadeiramente de fazer.
A que necessidade a R&C pretende responder?
Na contabilidade e gestão é importante a otimização do tempo de processos que levam muito tempo a ser desenvolvidos. Um relatório de gestão leva meses a ser elaborado, dependendo da dimensão da empresa ou da instituição. E, atualmente, na geração mais nova, as coisas não podem demorar tanto tempo, porque perdem-se os timings para serem tomadas decisões, a nível de gestão, muito importantes. Então, quanto mais depressa a informação chegar ao decisor, mais fácil é de tomar as decisões em tempo adequado.
O nosso projeto responde a esta necessidade de termos os documentos que vão ajudar ao nível da gestão de empresas. Imaginemos, que num prazo de dias, preciso ter um relatório feito para tomar decisões, porque senão acabo por ser ultrapassado pelos concorrentes ou acabo por ser ultrapassado pelo timing de tomar decisões. E é nesse sentido que desenvolvemos a ideia que apresentámos ao Poliempreende.
Como é que a R&C se diferencia da concorrência nesse sentido?
Diferencia-se porque há três grandes players neste campo do software informático que dominam o mercado de softwares de gestão. A diferença é que estes estão concentrados numa área que não é a elaboração dos documentos, mas sim a obtenção do processo de contabilidade. Diferenciamo-nos porque apresentamos um produto que é, não só, a execução da contabilidade, mas a execução dos documentos também, muito focado em otimizar o trabalho.
Como foi a passagem pelo Poliempreende?
Foi muito positiva! Para além dos contactos que fiz, concorri para testar a ideia e perceber se era viável com base no conhecimento de pessoas experientes, como os mentores.
Foi estimulante ver também o surgir de ideias de uma outra geração, com outro pensamento diferente do meu. E ver, principalmente este ano, o nível de concorrência que houve foi, sem dúvida, muito interessante. Temos ideias todos os dias, mas passá-las para a prática requer um empurrão e o Poliempreende proporciona exatamente isso.
Qual foi o maior desafio desta jornada? Mudarias alguma coisa no percurso?
O maior desafio foi chegar até ao fim, porque esta foi a terceira vez que concorri. Da primeira vez em que participei, não desenvolvi a ideia, apesar de ter sido bem aceite pelos mentores. No segundo ano, fiz o pitch e desenvolvi a ideia, mas não cheguei a apresenta-la na fase regional. Em conjunto, decidimos desistir, pois estávamos numa altura complicada, com a covid-19 e o conjunto de restrições impostas.
Nesta edição, as coisas desenvolveram-se positivamente, mas o maior desafio foi levar o projeto até ao fim. O que acaba por ser o problema da maior parte das startups. A nossa tendência é, quando as coisas começam a ficar difíceis, desistimos a meio, mas se tivermos um pouco de persistência e lutarmos, começa a ser mais fácil outra vez.
O que a IPStartUp representou no percurso pelo Poliempreende?
Foi uma ajuda positiva porque funcionou como um empurrão para a ideia conseguir sair da minha cabeça e passar para o papel, que é a parte mais difícil.
Depois, com a ajuda dos mentores, tornou-se mais fácil. Alguns foram meus professores durante a licenciatura e foram também parte integrante do sucesso e de termos chegado ao segundo lugar. Essa etapa conquistada proveio da ajuda dos mentores que fazem parte da IPStartUp e que acabam por nos dar uma visão que nós não temos. O feedback de alguém que está do lado de fora do nosso projeto é fundamental e, nesse aspeto, tenho de agradecer à professora e mentora Rosa Galvão, que foi uma grande ajuda neste processo e auxiliou-nos na elaboração de um plano de negócios para conduzir a ideia ao sucesso.
No final desta jornada, que perspetiva fazes da evolução do projeto?
Uma ideia, por ser apenas uma ideia, pode ser algo pouco nítido. Nós sabíamos qual era o projeto que queríamos desenvolver, mas faltava essa nitidez. O Poliempreende ajudou a tornar as coisas claras neste sentido e acabou por pôr tudo de forma lógica.
É muito difícil passarmos as nossas ideias para o papel porque os pensamentos nem sempre são fáceis de serem transmitidos. E nisso, o Poliempreende foi fundamental porque nos ajudou a fixar a parte que era importante e a descartar a parte que não era. Acabámos por descobrir o caminho que queríamos percorrer para o sucesso.
Onde vês a ideia daqui a 5 anos e quais os próximos passos para alcançar essa visão?
O projeto fica concretizado quando conseguirmos apresentar um produto ao cliente, mas há muito caminho a percorrer até lá. Daqui a 5 anos, espero que a ideia já esteja no mercado. Pelo menos, foi isso que nós planeámos. Isto requer muita paciência e persistência, mas sabemos onde queremos chegar.
Espero também que o produto já esteja a dar rentabilidade para os investidores que nos apoiaram e outras entidades que se juntem e que financiem o projeto. Não dá para contruirmos este caminho sozinhos nem temos financiamento para tal. Por isso, acima de tudo, quero que a ideia esteja no mercado e a dar dinheiro para aqueles que arriscaram connosco e entraram nesta aventura.
Os passos a seguir é, resumidamente, encontrar as pessoas certas e lidar com a parte burocrática que leva muito tempo em Portugal. Há muitas startups que não chegam a empresas mesmo por causa disso, porque a parte burocrática é muito difícil de resolver e o financiamento é essencial para uma ideia vingar e ser desenvolvida. Acho que, para mim, são os passos que se seguem, com o acompanhamento da IPStartUp e dos mentores, que vão ser um papel essencial no resto do processo até chegar ao produto final.
O que significa o empreendedorismo para ti?
É liberdade, porque no empreendedorismo não estamos dependentes ou a trabalhar para o sonho de alguém superior a nós. Estamos a desenvolver as nossas próprias ideias e não há nada melhor do que desenvolvermos algo único e algo nosso. É fantástico.