Abril 2024 | À conversa com Maria João Lima: o empreendedorismo como uma ferramenta fundamental

A IPStartUp teve o privilégio de entrevistar a Professora Maria João Lima, docente na Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal.

Como mentora da IPStartUp, para as áreas de Empreendedorismo e Estratégia Empresarial, a Professora Maria João Lima destacou a importância vital do empreendedorismo e das incubadoras na formação pessoal e profissional dos estudantes.

Lê a entrevista na integra onde se destacou como experiências empreendedoras podem moldar não apenas as perspetivas académicas, mas também as nossas trajetórias de vida.

Fale um pouco sobre o papel do empreendedorismo na sua vida.

Muito antes de eu ter contato com o empreendedorismo, ou de sequer ouvir falar sobre o termo empreendedorismo, tive uma primeira experiência empreendedora. Tinha uns 12 ou 13 anos, frequentava o terceiro ciclo do ensino secundário e comecei a fazer pulseiras. Na época surgiu a moda das pulseiras de linha, as pulseiras de macramé, e eu comecei a fazer pulseiras para vender a colegas, apresentando um mostruário de linhas de diversas cores. Elas escolhiam as cores e eu fazia as pulseiras de acordo com a encomenda. Esta acabou por ser a minha primeira e única incursão como empreendedora. Nunca criei uma empresa e, por essa razão, encaro o empreendedorismo como um mindset. Sempre fui uma pessoa com iniciativa, resiliente, disponível para novos desafios e acho que essa mentalidade empreendedora me tem ajudado a ultrapassar algumas adversidades permitindo-me alcançar os meus objetivos quer pessoais, quer profissionais.

No âmbito profissional, desenvolvi muito o intraempreendedorismo. Durante mais de 15 anos, trabalhei em empresas e procurei ter sempre uma postura proativa, procurando as melhores soluções e identificando oportunidades para fazer melhor dentro da minha área de atuação. Tive a sorte de nas empresas me ter sido proporcionada a possibilidade de experimentar, de me confrontar com coisas menos bem-sucedidas e de as poder melhorar e isso foi benéfico para aprimorar a minha abordagem empreendedora.

Mais recentemente, o empreendedorismo tornou-se parte integrante da minha vida através do ensino. Desde 2015 que estou no Instituto Politécnico de Setúbal, na Escola Superior de Ciências Empresariais. O empreendedorismo passou a estar associado à minha função como docente e adquiriu uma perspetiva mais conceitual. Passei a estar empenhada no seu estudo, em compreender, exatamente, o que é o empreendedorismo, quais são as suas diferentes abordagens e perspetivas.

Enquanto professora, como se alcança o potencial empreendedor que nasce na comunidade académica?

Os estudantes chegam ao ensino superior muito formatados para a memorização de conteúdos e para a reprodução dessa informação. O primeiro passo é desafiar essa abordagem de ensino tradicional e introduzir algumas metodologias que incentivem a desconstrução desse paradigma educacional.

Procuro, sempre que possível, incorporar metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem. A viabilidade dessas abordagens depende das unidades curriculares. Há unidades curriculares em que consigo fazê-lo através de estudos de caso, por exemplo, ou com aulas invertidas, que foi uma dinâmica que experimentei e que correu muito bem.

Noutras unidades curriculares recorro a técnicas como o brainstorming ou o desenvolvimento de projetos. Estas metodologias são importantes porque estimulam os estudantes a questionarem-se, a refletirem e a desenvolverem a criatividade, permitindo-lhes identificar soluções que tenham alguma inovação e que respondam a necessidades identificadas.

O segundo passo, que considero muito importante, é ajudar os estudantes a superarem o receio da exposição ao erro. Muitos têm dificuldade, por exemplo, em fazer apresentações orais perante a turma e questionam-me se os colegas estarão presentes ou se a apresentação poderá ser apenas para mim. É importante que enfrentem essa dificuldade e que aprendam a expressar-se e a conseguir expor, de uma forma mais ou menos fluida, as suas ideias perante um coletivo.

Além disso, encorajo a colaboração, incentivando os estudantes a partilharem as suas reflexões e a trabalhá-las em debate com o resto da turma. Tudo o que é desenvolvido em grupo permite essa partilha e essa experiência acaba por ser interessante e enriquece a aprendizagem. Nesse sentido, são igualmente promovidos o respeito mútuo, a valorização da diversidade de opiniões e das suas próprias contribuições.

Qual a sua motivação para ser mentora da IPStartup?

O meu propósito é poder contribuir, de alguma forma, para o sucesso destes jovens empreendedores que têm a ousadia de se iniciarem numa jornada desta natureza, porque é preciso ser corajoso! Poder contribuir com a partilha da minha experiência e oferecer, de alguma maneira, alguma orientação que possa ajudá-los a superar esses desafios e a alcançarem os seus propósitos.

Enquanto mentora da IPStartUp, que importância atribui a uma incubadora como a nossa, para um estudante do ensino superior?

A IPStartUp oferece aos estudantes um conjunto de recursos que são importantes, como o apoio de pessoas com experiência em áreas específicas e que lhes podem dar um aporte significativo e uma orientação que lhes será valiosa.  

Para além disso, o facto de poderem estar em contacto com outros empreendedores. Esse networking também os ajuda a superar alguns desafios e a enriquecer o seu conhecimento e formação. Acredito, que com este tipo de orientação, a probabilidade dos seus negócios poderem ser bem-sucedidos e de poderem crescer fica significativamente aumentada e, portanto, acho que tudo isso é muito valioso.

Que ligação tem o empreendedorismo com as unidades curriculares que a professora leciona?

Existe uma ligação direta entre o empreendedorismo e uma das unidades que leciono, uma vez que se trata especificamente da unidade curricular de empreendedorismo, portanto, para essa não há como fugir. Nesta unidade curricular são abordados e colocados em prática todos os aspetos considerados fundamentais para a criação de um negócio. Nas restantes unidades curriculares procuro proporcionar aos estudantes um conjunto de competências relevantes para o seu sucesso enquanto empreendedores. Aquela questão de não terem receio de cometer erros, a partilharem ideias, a colaborarem em projetos e a desenvolverem um pensamento crítico e criativo são essenciais para prepará-los para os desafios do mundo empreendedor.

Relativamente ao Poliempreende, como vê este concurso enquanto docente?

Considero que o Poliempreende é importante e muito interessante para os estudantes, porque lhes permite transformarem as suas ideias em negócios concretos, tangíveis. É uma experiência enriquecedora porque os confronta com situações reais, muito diferentes daquelas que trabalhamos em sala de aula, porque são situações simuladas, não é que não sejam importantes, mas proporcionando-lhes uma perspetiva realista do mundo empresarial.

Além disso, têm a possibilidade de receber feedback de especialistas, que têm um know-how muito significativo e isso acaba por ser muito valioso para a melhoria das suas ideias. Depois, há a questão da visibilidade e do reconhecimento, que é igualmente vantajoso para os estudantes, e que pode ajudá-los a catapultar as suas ideias de negócio a serem mais bem-sucedidas a médio e longo prazo. E, por fim, há a questão financeira, uma vez que o concurso oferece um prémio monetário, que não deixa de ser apelativo. Portanto, acho que é uma boa iniciativa.

Qual a importância do desenvolvimento das competências empreendedoras para um estudante de ensino superior?

Considero que são fundamentais. Hoje, o mercado é altamente competitivo e cheio de desafios e as competências empreendedoras são competências que eles vão conseguir aplicar em qualquer área ou profissão, mesmo que não venham a ser empreendedores. A capacidade do olhar para as situações de uma forma atenta e analítica, com uma preocupação de encontrar a melhor solução, adotando uma postura crítica construtiva são competências essenciais e cada vez mais valorizadas pelas empresas. Além disso, é essencial cultivar a disposição para a melhoria contínua, perceber como contribuir para o progresso, aceitar desafios e assumir riscos. Hoje, as empresas valorizam profissionais proactivos, que tenham iniciativa, que tenham a capacidade de se integrarem, de trabalhar em equipa, de forma colaborativa. Estas competências são desenvolvidas no âmbito destas atividades e, portanto, considero que são sempre uma mais-valia para os estudantes. Por vezes, os estudantes podem não estar bem cientes disso, mas ao longo do percurso académico acabam por perceber a importância dessas competências. É gratificante ajudá-los a compreender que esse desenvolvimento é importante e enriquecedor e que, com certeza, irá refletir-se em vários momentos das suas vidas profissionais e também pessoais.